Primeiro, não vivo no mundo de Alice. Antes de qualquer coisa. Segundo, a natureza da mulher é impressionante. A mulher consegue fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo, ao passo que o homem, não!
E porque estou falando isso. Primeiro, eu não sei vocês, mas, eu, desde minha primeira gestação, tive um "salto" intelectual. Ainda grávida de Maria Helena, tive meu primeiro artigo científico publicado. Antes de ter filho, fiz duas especializações, todas duas consegui publicar em forma de artigos. Depois disso, não parei.
Muitas pessoas perguntam como eu consigo fazer tanta coisa e questionam meu marido também, que é muito atuante em seu trabalho. O segredo é o companheirismo, a parceria. Se você tem um parceiro em sua casa, ou namorado, ou ficante, ou qualquer coisa, você consegue se descobrir não apenas como pessoa, mas também como profissional.
Preciso fazer uma retrospectiva, já que o momento exige. Quando casei, fui residir em Belém-Pará. Não trabalhava. Passava o dia inteiro em casa, praticamente. Foi quando decidi fazer um cursinho. À época, estudava para concursos. Bom, eu pensava que estudava, mas, tinha tempo demais para estudar (que contradição, eu sei!). Até que engravidei.
Após o primeiro ano de vida da minha filha, recebi uma proposta de trabalho em um escritório de advocacia e aceitei. Descobri minha paixão: queria mesmo engatar na advocacia. Estava certa disso.
Trabalhei durante 11 meses neste escritório e resolvi abrir um próprio. Tudo corria bem. Até que descobri que estava grávida. Foi um tremendo susto. Mesmo assim, não parei. Continuei trabalhando e, graças à Deus minha gravidez foi super tranquila. Adorava ir ao Fórum grávida, as pessoas tendem a ser mais gentis com mulheres gestantes! Quanto mimo recebia. Uma época muito boa.
Nesse tempo, desfiz minha sociedade e montei outra. Começando um novo desafio e, estrategicamente em um novo local. Confesso que nunca foi fácil, mas, era prazeroso pra mim. Eu de fato estava realizada. Até que meu marido foi chamado no concurso e tivemos que retornar ao Maranhão.
Ainda não cheguei onde pretendo. Ele assumiu o Cargo no Maranhão, e eu continuei em Belém com minhas filhas. Nosso casamento se resumia aos finais de semana, onde eu tinha que dividi-lo com as meninas e os amigos. As meninas já sentiam falta dele com mais frequência. Maria Helena, por exemplo, sabia que o pai chegaria na sexta à noite e desde quarta-feira já estava pronta para ir buscá-lo no aeroporto. Era de partir o coração. Até que no final de julho de 2014 decidimos que eu teria que retornar ao Maranhão.
Retornei e fiquei fazendo ponte aérea Imperatriz-Belém, para acompanhar processos, o andamento do escritório, etc. Foi bem tenso. Mesmo assim, tive que optar, naquele momento, por minha família. Não foi fácil. Eu simplesmente larguei tudo!
Bom, cheguei onde queria. Acredito que tudo que acontece em nossa vida tem um lado bom, até mesmo nas decepções, afinal, aprendemos com elas, crescemos, amadurecemos. O que seria de nós sem as decepções,...
Relutei muito até decidir abrir um novo escritório de advocacia. Optei por abrir na cidade onde meu marido trabalhava, assim, ficaria mais tempo com ele. Também fui muito feliz, aprendi demais. O problema era que eu tinha que dormir de segunda à quarta longe de casa. E atrapalhava a logística do meu marido. Ele tinha que ir segunda e voltar na quarta para dormir em casa, depois voltava para a cidade na quinta e retornava na sexta. Ele não faz TQQ - terça, quarta, quinta.
Aí, decidi que queria alçar um voo mais alto e mais perigoso. Foi então que soube, pesquisando no Google, que tinha aberto um Edital de Mestrado no Rio de Janeiro - RJ. Sentei com ele. Falei sobre o que desejava. Ele, de plano disse: Vai. Faz a prova.
Naquele momento eu pensei: Puxa! Como sou sortuda. Então, entre petições, filhas, aulas, estudava os textos e fazia os resumos. Com a coragem que não é comum em uma libriana, aceitei o desafio. Lá estava eu, no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa que eu nunca havia estado, na esperança de conseguir algo melhor.
O desfecho disso vocês sabem: sou Mestre.
O que quero dizer com tudo isso é que o meu companheiro, meu parceiro, meu marido, foi fundamental nesse processo. Minhas filhas não podem, jamais, reclamar da ausência do Pai na vida delas. Por dois anos eu fui ausente, confesso. Perdi algumas comemorações na escola, perdi alguns momentos importantes na vida delas, tivemos que adiar o aniversário da Maria Eduarda este ano (2017) porque no dia eu estava no Rio de Janeiro, defendendo minha dissertação. Enfim, um coração incompleto e dividido. A preocupação de mãe querendo falar mais alto, a vontade de largar tudo e ficar com minhas filhas e um marido dizendo: Vai, que eu cuido aqui!
Hoje, sob uma nova perspectiva, um novo olhar, vejo o quanto sou abençoada. Mas, também consigo enxergar todo o meu esforço e o fruto que isso nos rendeu. A satisfação pessoal e profissional é fundamental para se ter uma vida plena, feliz!
Atualmente, ouço das minhas filhas que dizem que querem ser igual à mim. Que me admiram. Quase idolatram a mãe, rs. É maravilhoso. Hoje tenho tempo de conviver mais. Sou mais feliz no meu trabalho e isso reflete minha felicidade em casa. Não culpo as mães que não tiveram as mesmas oportunidades que eu tive/tenho. Eu apenas lamento muito. Assim como lamento também as que tem e que culpam os filhos pela sua inércia. Acredito que cada um sabe de suas necessidades, seus objetivos e sua função no mundo. Eu não nasci para ser do lar. Peco muito nisso, inclusive.
Sair de casa cedo para ir trabalhar e encontrar Maria Helena dizendo: Mamãe, você já vai? Respondo: sim. Ela diz: Bom trabalho mamãe. Estarei te esperando. Você está linda. É simplesmente inexplicável.
Há uns 15 dias estou com a garganta inflamada e ontem foi o ápice. Fui ao médico assim que saí da Faculdade onde trabalho. Ele disse que precisaria de repouso porque estava com as cordas vocais inflamadas. Ao chegar em casa, Maria Helena logo perguntou de onde eu havia chegado, se do trabalho ou de outro local (certamente ela viu a sacola cheia de remédios). Respondi do Hospital. Ela abraçou-me e disse: Agora eu cuidarei de você.
Aproveitando esses dias, em casa, para ajustar algumas pendências. Lendo livros, montando as próximas aulas e, Maria Helena pega a máquina e registra esse momento que retrata bem minha realidade.
Na foto estou lendo e Maria Eduarda colada. Querendo saber se eu poderia ler para ela e se era a historinha de Chapeuzinho Vermelho.
Depois, peguei a máquina e disse para Maria Helena que iria registrar a cara de sapeca dela ao fazer a foto.
Assim, sempre digo: sou muito abençoada.